“Ninguém é idiota de achar que o Neymar não é um gênio do futebol. Só que depois da Copa, ele só fez 9 gols. Sendo 3, no Campeonato Paulista. Sendo 1, na Arábia.” Durante o programa Os Donos da Bola desta terça-feira (10), Craque Neto foi direto ao traduzir o sentimento de parte da torcida: até quando o Brasil vai depender do brilho de uma superestrela na Seleção?
A ausência de Neymar na primeira convocação de Carlo Ancelotti abriu espaço para outro debate que vai além da atual condição física do camisa 10, mas sobre o futuro da Seleção: será que o novo técnico está investindo em um time sem ídolos midiáticos? E mais: será que isso é, de fato, um problema?
Neymar ainda pauta tudo (mesmo fora de campo)
Oficialmente, a ausência de Neymar se deu por questões físicas. Porém, pode-se dizer que a simples ausência do nome de maior apelo da Seleção já bastou para gerar polêmica. E, como mostram os dados da Sala Digital, também despertou curiosidade: os novatos convocados por Ancelotti viraram objeto de busca imediata por parte do torcedor. Alexsandro, zagueiro do Lille, teve um aumento de 1.000% nas buscas ao longo da última semana. Convocado pela primeira vez, já entrou em campo no último jogo e teve uma performance positiva - o que despertou a curiosidade de quem não acompanha de perto a atuação do zagueiro. Vanderson, lateral do Monaco, também disparou em 1.800% nas pesquisas. Há muito tempo, a Seleção não tem um nome forte na posição - o que desperta a dúvida sobre a qualidade do “novato”. Andrey Santos, volante do Strasbourg, também teve pico de interesse após entrar em campo.
As perguntas que aparecem entre as mais buscadas sobre os jogadores revelam o desconhecimento do público: “Joga onde?”, “É destro ou canhoto?”, “Quantos anos tem?”. O dado aponta para algo maior: o Brasil está acostumado a uma Seleção de nomes prontos - e não de projetos de time.
O paralelo com o PSG: menos fama, mais futebol
Curiosamente, a discussão sobre uma Seleção menos estrelada ecoa o que já aconteceu em outro time comandado por grandes nomes: o Paris Saint-Germain. Após a saída de Messi, Mbappé e Neymar, o clube passou por uma transformação profunda sob o comando de Luis Enrique. A nova aposta foi em um grupo jovem, operário e taticamente disciplinado.
O resultado foi uma equipe mais coesa, querida pela torcida e que venceu a Champions League com menos fama (no caso, “superestrelas”) e mais entrega. A mudança foi tão bem recebida que, na França, o PSG passou a ser visto como um time que voltou a lutar “pela camisa”, e não só pelo marketing.
A Seleção pode seguir o mesmo caminho?
A Seleção de Ancelotti ainda está longe do estágio do PSG. O contexto é, de fato, outro, mas pode-se dizer que entre mudanças de técnicos e instabilidade em campo, há similaridades no atual discurso do investimento de Ancelotti: o italiano aposta na flexibilidade tática, em jogadores dispostos a cumprir funções e em uma reconstrução emocional da equipe. Resta saber se, ao contrário do que o Brasil se habituou, a identidade do time não virá de um ídolo, mas de um conjunto.
Até aqui, a cobrança segue alta. Mesmo ausente, é Neymar quem continua pautando as conversas. Mas talvez o maior desafio de Ancelotti não seja convocá-lo ou não, mas sim provar que a Seleção pode ser protagonista mesmo sem depender de um só nome.