Em meio aos crescentes desafios enfrentados por educadores para manter a atenção dos alunos durante a leitura, uma professora da rede pública decidiu transformar sua experiência em sala de aula em um guia prático para ajudar os colegas com o drama que assusta muitos deles no dia a dia da profissão.
O livro, intitulado "Método Avatar”, reúne técnicas inovadoras desenvolvidas ao longo dos mais de 20 anos de experiência da professora e neuropsicopedagoga, Ediléia Assis. Segundo a autora, a ideia da obra surgiu da percepção de que os alunos têm cada vez mais dificuldade em manter o foco nas atividades que exigem leitura, especialmente após a pandemia e o uso intensivo de telas digitais. Por isso, o objetivo é desenvolver o gosto pela leitura.
“Percebi que os estudantes estavam mais dispersos, com dificuldade de se concentrar mesmo em textos curtos. Foi aí que comecei a testar estratégias diferentes para atrair a atenção deles e criar um ambiente mais propício à leitura”, afirma Ediléia.
Entre as principais técnicas apresentadas no livro estão o uso controlado de música instrumental em sala de aula. A professora relata que, ao introduzir sons suaves durante as atividades de leitura, os alunos mostraram maior engajamento e tranquilidade. “A música funciona como um elemento de foco e ajuda a silenciar o barulho externo e interno, criando uma atmosfera de concentração para todos eles”, destaca.
Outra abordagem detalhada na obra é o incentivo ao treino visual, que é o aluno ler com os olhos acompanhados de objetos, como uma régua ou lápis. Há também o incentivo à criatividade para driblar a utilização de ferramentas como a inteligência artificial. Os métodos trazidos pelo livro são destinados para aplicação em todos os alunos, sobretudo crianças com transtornos do neurodesenvolvimento e de aprendizagem (TEA, TDAH, dislexia entre outros), com idades entre nove e 10 anos, que representam em torno de 30 a 40% dos estudantes em salas de aula.
“Quando a criança tem uma configuração cerebral diferente, o ato de ler é muito mais complexo e os estudos explicam essa questão, por isso, que o agregamento de técnicas com o conhecimento teórico é essencial”, pontua a profissional.
O livro traz ainda um alerta importante: o uso excessivo de telas, como celulares, tablets e computadores, que está diretamente relacionado à queda na capacidade de atenção dos estudantes. “Não se trata de vilanizar a tecnologia, mas de aprender a usá-la com equilíbrio. As crianças estão acostumadas com a velocidade dos vídeos curtos, e isso torna a leitura, que exige paciência e imersão, mais difícil. Precisamos ensinar o cérebro a desacelerar”, argumenta a professora.
A obra já vem sendo adotada por educadores de diversas regiões como uma ferramenta de apoio pedagógico, e Ediléia tem percorrido escolas e eventos educacionais para apresentar suas propostas. “O livro é um convite para que professores experimentem novas formas de ensinar a ler e de aprender a focar novamente. Estamos caminhando na educação com inclusão e os profissionais precisam se abrir para essa nova realidade para tornar o exercício da profissão algo mais leve e prazeroso, visto que muitos me relatam exaustão por não conseguirem se adaptar ao que vem acontecendo. Também gosto de pontuar que quando o aluno desenvolve o gosto por ler, todo o processo fica mais fácil,” conclui.