Práticas sustentáveis, técnicas que aumentam a produtividade e muito cuidado com o produto final. Esta foi a receita encontrada pelos pequenos produtores rurais de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina, no Norte Pioneiro do Paraná, para produzir morangos reconhecidos pelo sabor e a qualidade.
A boa fama, aliada a método de trabalho que garante rastreabilidade do produto, rendeu ao morango do Norte Pioneiro o selo de Indicação Geográfica (IG) concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O certificado foi emitido em 2022, após um trabalho de orientação aos agricultores locais feito pelo Sebrae/PR, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e a Associação Norte Velho dos Produtores Rurais de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina (ANV).
Para poder comercializar o morango com o selo, os agricultores da região precisam se comprometer a registrar todos os passos produtivos em um caderno de campo, separando a produção em lotes controlados, e a adotar práticas sustentáveis, como o uso reduzido de agrotóxicos, dando preferência a métodos biológicos e mecânicos de desinfecção.
“Com a IG, nós garantimos maior qualidade do morango ao cliente, usando somente produtos biológicos, respeitando o caderno de campo e obedecendo aos procedimentos pós-colheita”, afirma a produtora Lucélia Costa.
Uma destas práticas usadas pelos produtores é o plantio suspenso dentro de estufas. Em vez de plantar as mudas no solo, os produtores instalam calhas em estruturas que ficam a cerca de um metro do chão.
Além de evitar o uso de defensivos contra pragas do solo, a técnica possibilita um acompanhamento mais de perto dos morangueiros. A estufa também controla melhor o ambiente, reduzindo em até 5ºC a temperatura na área da lavoura. Isso permite que a fruta mature mais tempo ainda no pé, a deixando maior, mais saborosa e mais resistente.
“O plantio suspenso nas estufas beneficia o trabalho de modo geral. Reduz o uso de agrotóxicos, melhora a ergonomia para quem trabalha na colheita e também aumenta a produtividade, já que cabem mais mudas em um mesmo espaço de lavoura”, diz o agricultor Claudemir Silva.
No chão, são plantados cerca de cinco pés de morango por metro quadrado. Nas calhas, é possível distribuir de 7 a 12 mudas no mesmo espaço. No plantio suspenso, as mudas também duram mais tempo, chegando a cinco colheitas seguidas com o mesmo pé, cada um produzindo até dois quilos de morango por ano, enquanto no chão as mudas duram cerca de duas colheitas seguidas.
De acordo com o presidente da ANV, Marcelo Siqueira, as técnicas associadas ao trabalho da IG favorecem os agricultores familiares, que conseguem colher um volume maior de frutas em pequenas propriedades a um valor de mercado mais alto. “Além de ter uma tecnologia melhor e um melhor aproveitamento de área, estes produtores conseguem um maior valor agregado ao produto. A gente conseguiu praticamente aumentar em 100% o valor de venda do produto”, afirma.
A boa rentabilidade para pequenos produtores é um dos motivos pelos quais a cultura do morango de maneira sustentável, com diferenciais de mercado, se desenvolveu na região, de acordo com Siqueira. “É possível dar uma renda melhor a um produtor familiar, que tem uma propriedade pequena. Ao mesmo tempo, sendo uma cultura familiar, é possível trabalhar com a fruta com mais cuidado e atenção nos processos pós-colheita. Isso também valoriza o produto”, disse.
Em todo o Estado, o morango foi a fruta que teve maior acréscimo da produção nos últimos dez anos, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), saltando de 18 milhões de toneladas anuais para 34 milhões de toneladas. Segundo o relatório anual do órgão, o motivo é a alta rentabilidade oferecida aos produtores.
Em Jaboti, por exemplo, cidade que mais produz a fruta na região, com 4 mil toneladas por ano, a proporção de pequenas propriedades rurais na cidade está acima das médias brasileira e estadual, de acordo com o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017, o último divulgado. 72% das propriedades rurais no município têm até 10 hectares. No Brasil, elas representam 50% e no Paraná são 46% com esta dimensão.
Além disso, a região tem características climáticas e geográficas propícias para o cultivo da fruta. As cidades que possuem o selo da Indicação Geográfica estão a 500 metros de altitude, em uma área em que o inverno tem dias quentes e noites frias, o que favorece o desenvolvimento do morango. “Acabamos tendo um morango mais doce por causa destas características climáticas”, explicou a produtora Lucélia Costa.
De acordo com o consultor do Sebrae/PR no Norte Pioneiro Odemir Capello, a adoção das boas práticas associadas à Indicação Geográfica surgiu a partir de uma pesquisa de mercado local por parte do Sebrae, que identificou o potencial de comercialização para um produto de maior valor agregado.
“O que nós vimos é que a região tinha clientes em potencial que não estavam buscando preço, mas um produto de qualidade. Com o trabalho da Indicação Geográfica, nós pudemos ter condição de trabalhar coletivamente isso com os pequenos produtores da região”, afirma.
Além das práticas sustentáveis que valorizam o morango, os produtores associados à IG também têm melhores condições de comercializar a fruta coletivamente, uma forma de amenizar a variação de preço condicionada à sazonalidade do produto.
“Conseguimos criar uma dinâmica para fornecer morango o ano todo aos nossos clientes. No período de entressafra do Rio Grande do Sul, nós vendemos morango a eles, mesmo eles sendo um dos maiores produtores do País”, explica o presidente da ANV, Marcelo Siqueira.