Israel e o Hamas têm até 16 de maio, quando o presidente Trump vai encerrar a sua primeira visita ao Oriente Médio, para um acordo de cessar-fogo e troca de reféns por prisioneiros palestinos. Sem acordo, recomeçará a guerra de 18 meses, com as forças israelenses, reforçadas por milhares de reservistas, cumprindo ordens de conquistar, para ocupar, o norte de Gaza, enquanto a população palestina será deslocada para o sul.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a decisão de escalar a guerra em Gaza não quer dizer que os 24 reféns vivos foram abandonados. Seu porta-voz, David Mencer, acredita que a pressão de “acabar a guerra” pela força militar, agora, poderá levar o Hamas a aceitar um acordo sob os termos israelenses. Não é, porém, o que acham os familiares dos reféns, que temem que eles sejam mortos assim que os soldados se aproximarem de seus cativeiros.
O presidente Donald Trump respondeu a perguntas sobre a fome em Gaza, depois de mais de dois meses de bloqueio israelense à entrada de ajuda humanitária. Ele assegurou que comida, água e medicamentos estão sendo providenciados, sem mais o controle do Hamas. A ONU também foi marginalizada na nova estratégia aprovada por Israel, que envolve empresas privadas e ONGs, e antecipou que não vai colaborar. Os palestinos pegarão kits de ajuda em entrepostos levantados em vários pontos de Gaza, semanalmente. O governo Netanyahu acusou o Hamas de desviar, e depois vender, a comida enviada à população, para pagar o salário de seus combatentes.
Trump é esperado na Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos (EAU) entre 13 e 16 de maio. Ele tentou, no seu primeiro mandato, com seu genro Jared Kushner, o estabelecimento de relações entre israelenses e sauditas, no contexto dos Acordos de Abraão, que já inclui o Bahrein e EAU. Não conseguiu, porque Israel não acedeu à principal exigência da Arábia Saudita: proporcionar um futuro viável para o povo palestino. Trump leva na bagagem as negociações para um acordo nuclear com o Irã, o pedido do novo governo sírio para participar dos Acordos de Abraão, e assim livrar-se das sanções americanas, e a situação explosiva em Gaza.
A escalada em Gaza já ganhou um nome em Jerusalém: Carruagens de Gideão. O Antigo Testamento conta que Deus reduziu as forças israelitas de Gideon de 9.700 soldados para 300 soldados, com cada um deles tendo de vencer 450 soldados do inimigo, “numerosos como nuvens de gafanhotos”, e o governo israelense, ao contrário, está aumentando drasticamente, suas tropas para os novos combates. Cerca de 70% da população de Israel estão contra a Carruagens de Gideão e a ocupação de Gaza. Para eles, a guerra serve só à manutenção do poder pelo primeiro-ministro Netanyahu. A extrema-direita ameaça abandonar a coligação que sustenta o governo se a guerra não atingir todos os objetivos previstos: o fim do Hamas e a libertação dos reféns, embora a vitória em um pode significar a derrota no outro.
“Há uma verdade dolorosa no cerne desta guerra: a campanha militar de Israel, ao mesmo tempo que degrada as capacidades militares do Hamas, também devasta a vida de palestinos comuns”, declarou o tenente-coronel da reserva Peter Lerner ao jornal Haaretz. “Se quisermos ter alguma esperança de acabar com esta guerra sem plantar as sementes dos extremistas da próxima geração, a estratégia precisa mudar”.
Com Gaza em ruínas, contando 52 mil mortos desde o começo da guerra, em outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que não distingue combatentes e civis, restam poucos bastiões para Israel capturar nessa nova ofensiva. É neles que estariam os 24 reféns vivos dos 250 capturados na invasão ao sul israelense, que deixou 1.200 mortos. Um ex-chefe da inteligência militar israelense, Tamir Hayman, considera inútil o exercício de mais pressão sobre o Hamas, que já a enfrentou, sem ceder, por um ano e meio. Para ele, melhor é acabar a guerra, o Hamas já bastante enfraquecido, sem mais condições de ameaçar um novo atentado contra Israel.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, opôs dúvidas à operação Carruagens de Gideão: “Temo que a intensidade da luta vai ditar o destino dos reféns”. E perguntou: “Qual é o objetivo? Por que estamos convocando reservistas? Sem definir um objetivo não se vence uma guerra”.