As incertezas sobre o futuro das exportações para os Estados Unidos, a partir do dia 1º de agosto, devido às tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros anunciadas pelo presidente Donald Trump já interferem na rotina das agroindústrias brasileiras. Em Mato Grosso do Sul, pelo menos quatro grandes frigoríficos já suspenderam os embarques.
Empresas como JBS, Minerva Foods, Natural Frigg e Agroindustrial Iguatemi informaram que já interromperam os embarques, embora garantam que a produção interna continue normalizada. A medida foi tomada como estratégia para evitar o encalhe de estoques.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, "com essa taxação, se torna inviável a exportação de carne bovina aos Estados Unidos". Ele mencionou também que há cerca de 30.000 toneladas de carne já produzidas que estão atualmente no porto ou em trânsito, o que aumenta a preocupação sobre como gerenciar essa situação a partir de agora.
O governo de Mato Grosso do Sul, por sua vez, está avaliando mercados alternativos, como Chile e Egito, para realocar a produção destinada anteriormente aos Estados Unidos. Essa busca por novos mercados é crucial para mitigar o impacto econômico da paralisação nas exportações para um dos maiores compradores de carne brasileira. A federação das indústrias do estado destaca que o setor emprega mais de 17.000 trabalhadores e é composto por 62 empresas dedicadas ao abate e fabricação de produtos de carne bovina.
Além do setor de carnes, a indústria de sucos e de frutas também enfrenta incertezas. Ibiapaba Netto, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Suco Cítricos (CitrusBR), expressou preocupação com a o mercado, já que uma safra inteira está prestes a ser colhida sem garantias de que o mercado americano estará disponível.
Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas), destacou o risco para a safra de mangas do Vale do São Francisco, que representa 2.500 contêineres destinados aos Estados Unidos. Nesta terça-feira (15), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou uma nota pedindo maturidade e criticando a continuação de narrativas políticas que, segundo a entidade, alimentam extremos e paralisam decisões econômicas. A confederação enfatizou que o Brasil exportou mais de 10 bilhões de dólares para os Estados Unidos no último ano, sublinhando a importância de uma relação comercial estável.
Os empresários, por sua vez, pedem que o Palácio do Planalto não aplique tarifas retaliatórias de 50%, temendo que tais medidas possam agravar ainda mais a situação econômica. Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, e Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria, concordam que não há vencedores nessa disputa e que é necessário buscar soluções que evitem um cenário de perda mútua entre Brasil e Estados Unidos.